ENTREVISTA | Kathryn Voss na casa do BBB

Calma! Não troca de canal, pois não estamos falando de Big Brother!
A Alemanha reivindica alguns dos compositores de música erudita mais renomados mundialmente. Os famosos três ‘Bs’.
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Bach (Johann Sebastian Bach)
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Beethoven (Ludwig van Beethoven)
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Brahms (Johannes Brahms)

Kathryn Voss
E é de lá que fala Kathryn Voss, violinista, gaúcha e recém casada que se fixou em Kaiserslautern.
Os detalhes você confere logo mais em nossa entrevista.
V.Vermelho: Olá Kathryn, conte pra gente um pouco da sua história. Quando foi seu primeiro contato com o a música e violino?
Kathryn Voss: Desde que nasci meu pai tocava violão e cantava pra mim (e comigo). Minha mãe conta que com 2 anos eu “pedia” pra deixar a TV no canal que passava ópera. Com 6 anos segurei pela primeira vez um violino, mas meu primeiro instrumento foi um teclado. Com 10 anos comecei aulas de violino e ganhei um também. Desde então não parei mais.
V.Vermelho: A sua família sempre incentivou em seus estudos?
Kathryn Voss: Sim. Eu sempre tive incentivo da família toda, principalmente dos meus pais. O que me ajudou a decidir que levaria a música como profissão.
V.Vermelho: Todo músico geralmente começa como fã. No seu caso qual foi sua maior inspiração?
Kathryn Voss: Meu avô tocava violino, mas por causa de um acidente no ano de 1983 eu não tive a oportunidade de conhecê-lo. Até hoje temos o violino dele guardado em casa, e eu sempre imaginei como seria ver ele tocar. Temos algumas fitas cassetes e discos da época em que ele e mais dois amigos gravaram algumas músicas. Eu tinha curiosidade de como se tocava um violino, e pensar no meu avô me emocionava e aquele sentimento me fazia querer aprender por ele. Quando meus pais me levaram no conservatório, já na primeira aula experimental eu escolhi o violino. A partir daquele dia eu não tive dúvidas. Me identifiquei!! Era o que eu queria!!
V.Vermelho: A longa jornada de estudo do violino quase sempre não se resume a um único professor. Qual deles te marcou mais e porque?
Kathryn Voss: Acredito que o primeiro professor é o que deixa aquela marca de início no instrumento e incentivo para continuar. No meu caso, comecei as aulas de violino com um professor e fiquei com ele durantes uns 7 anos. Esses anos foram essenciais para eu entender o que a música significava pra mim. Tive várias experiências musicais com orquestra, música de camara, duetos, aulas em grupo, músicas de todos os tipos e improvisação proporcionados por este professor. Tudo isso me serviu como base para mais tarde aperfeiçoar o meu desenvolvimento no violino e musicalmente também.
V.Vermelho: Você teve a oportunidade de estudar música na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Conte pra gente sobre sua decisão de cursar bacharelado em violino.
Kathryn Voss: Todos sabem que quando chega aquele momento de fazer vestibular e escolher uma carreira é muito difícil. Na época eu estava em dúvida, queria cursar fisioterapia também. Quando foi chegando o momento de decidir, conversei com meus pais, que me apoiaram muito durante essa fase e a fase da faculdade também, e percebi que a minha vida já era música. Eu não tinha escolha. A música e o violino faziam e fazem parte de mim. Violino é a minha vida, e por isso decidi me especializar fazendo esse curso.
V.Vermelho: O que todos já devem estar esperando pra saber. Como foi parar na Alemanha?
Kathryn Voss: Haha. Então, para todos saberem, para mim não é muito difícil vir para a Alemanha. Eu tenho cidadania, ou seja, sou alemã também. A idéia de vir para a Alemanha surgiu na vontade de ter uma nova experiência, conhecer outras pessoas no mundo da música. Eu já vim várias vezes, mas como turista e pra visitar a família, e dessa vez estou morando e vendo como as coisas realmente funcionam por aqui. O objetivo era fazer aulas com outros professores e participar de outras experiências musicais.
V.Vermelho: Tenho certeza de que essa nova experiência trouxe também novas perspectivas. Quais são elas?
Kathryn Voss: Morando em outro país, é preciso se habituar com tudo. Entrar no sistema. As exigências de estudo, provas para universidade, notas boas, plano diário, disciplina, cultura, alimentação, família, entre outros, me fizeram refletir quais eram minhas perspectivas e o que eu estava fazendo para alcançá-las. Uma delas que se intensificou foi a de levar o violino realmente a sério.
V.Vermelho: Fiquei sabendo que está estudando violino com um novo professor. Quem é ele?
Kathryn Voss: Meu novo professor tem um nome um pouco fora do comum para nós brasileiros… o nome dele é Wolfgang Bach!! Eu estranhei um pouco no início em chamar ele de “Herr Bach” (Senhor Bach), mas com o tempo, acostumei.
Ele é alemão, estudou na Escola Superior de Música de Karlsruhe e fez curso de regência com Prof Karl-Heinz Bloemeke (regente da Orquestra de Câmara de Folkwang na cidade de Essen e maestro da Orquestra Sinfônica de Berlim) na Academia de Música de Detmold. Dá aulas de violino, teoria e preparatório para universidade na Escola e Academia de música de Kaiserslautern, e rege a Orquestra da Escola e Academia de música.
V.Vermelho: Sei que também está integrando uma orquestra acadêmica na sua cidade. Conte-nos um pouco sobre as diferenças que existem entre Brasil e Alemanha em relação ao trabalho no meio musical.
Kathryn Voss: Aqui temos problemas com relação a pagamentos também. Depende também se a cidade é pequena ou grande. Já soube que algumas orquestras filarmônicas foram diminuindo até virarem uma orquestra de camara, ou até não existirem mais por causa da falta de pagamento. Mas o que existe aqui é o apoio do governo com relação a cultura em geral. Mesmo que o governo não tenha mais como pagar salario para músicos, eles oferecem espaço para formar grupos, orquestras e bandas voluntarias. Tem festivais durante o ano todo que dão oportunidade para a participação musical, e muitos dos festivais, ou feiras que não tem relaçao com a música, procuram voluntários ou chamam pessoas e bandas conhecidas que ficam revezando fazendo show durante o dia e a noite.
Em todos os teatros, igrejas e lugares para concertos e apresentações estão disponíveis programações do ano inteiro. Alguns são pagos, outros são beneficentes, outros é concerto a la carte (com janta ou almoço), etc. Uma coisa que me chamou bastante a atenção, foi que em todos os concertos e até em uma ópera que assisti, esses lugares lotam. Muitas vezes da pra perceber que tem pessoas que não entendem de música, mas é cultural ir assistir e levar a família junto.
Os músicos aqui são valorizados, as outras profissões vêem o músico como profissional também. O interessante é que são oferecidos vários tipos de cursos na Alemanha toda e você já pode fazer a universidade se especializando em alguma área que gosta mais, assim, já sai bem preparado com uma direção de trabalho.
V.Vermelho: Revele pra gente, qual a última peça que agregou a seu repertório?
Kathryn Voss: A última peca que comecei a estudar é ”Theme from Schindler´s List” de John Williams. Eu estava procurando uma peca diferente e que eu pudesse desenvolver mais a minha expressividade, quando eu achei esta; me apaixonei!
V.Vermelho: Kathryn, você teve a oportunidade de “ir beber direto da fonte” e certamente, estudar fora do Brasil é o objetivo de muitos músicos. Você pode deixar um conselho para eles?
Kathryn Voss: É uma experiência incrível. Eu aconselho guardar um pouco de dinheiro e fazer a hora que der. Minha opinião é que você não precisa sair a procura de um professor que tenha nome e que todos conheçam. Pelo menos aqui na Europa, a maioria dos professores de música que dão aulas, são formados, tem uma ampla experiência musical, e é praticamente garantido que tocam muito bem. Você só precisa achar aquele que você se identifica e a qual técnica você se adapta melhor. Não tem muito como explicar, é preciso viver pra poder sentir a emoção de descobrir um mundo que você já conhece por outros olhos.
V.Vermelho: Kathryn, muito obrigado por sua disposição em compartilhar conosco parte da sua história. Fica aqui um espaço em aberto para você mandar um recado ou agradecimento para alguém (ou alguéms rsrs) especial.
Kathryn Voss: Eu quero agradecer pela oportunidade de participar da entrevista, foi bem interessante. Quero agradecer meus pais que me proporcionaram todas as oportunidades para ter a música na minha vida. E por último agradecer meu marido, Tauan Zimmermann, que sempre me apoiou e está participando desta aventura de viver em outro país comigo.
Um comentário
Parabéns pelo site. Especialmente pela entrevista com a Kathryn é gratificante ver nossa filha se resolvendo na Alemanha. Obrigada Tauan Zimmermann e Cornélia Voss pelo apoio até o momento.
Abç
Verônica e Edgar Voss